segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A Fênix do Oriente


Para qualquer categoria de automobilismo, hoje é bastante difícil conciliar gastos, audiência e atrativos para os pilotos. Ainda é mais difícil quando essa categoria apesar de contar com pilotos estrangeiros, mantém um status nacional. É o caso da Formula Nippon, apesar do grande número de estrangeiros que participaram da categoria desde sua fundação em 1996, apenas uma vez uma corrida foi realizada fora do território japonês. Em 2004, com o circuito de Fuji em obras para receber futuramente a F1, a Formula Nippon precisou realizar uma de suas etapas no circuito de Sepang na Malásia, porém foi apenas uma vez, nunca mais a categoria correu em um circuito que não estivesse em território japonês.


Vamos tratar hoje da capacidade admirável da categoria japonesa de se recuperar após momentos de grande crise.


A Formula Nippon surgiu em 1996 para substituir a F3000 Japonesa. Com três fabricantes de chassi, Lola, Reynard e G-Force, a categoria era muito atrativa aos pilotos estrangeiros, revelando alguns deles para a F1. Porém com a falência da Reynard e a desistência da G-Force, a categoria passou a contar com apenas um fornecedor de chassi a partir de 2003, a Lola com seu modelo B351. Começava aí o declínio da categoria, a Formula Nippon que formava grids com até 26 carros em algumas corridas no final dos anos 90, começou a perder pilotos e equipes, culminando em uma temporada com apenas 15 carros em 2005.

Lola B351 - Kondo Racing 2005 - Ronnie Quintarelli

As luzes de alerta já haviam sido ligadas e a organização da categoria já havia percebido a necessidade de mudanças. Para 2006, um novo regulamento com várias mudanças foi aprovado, a categoria precisava se reerguer e pra isso precisava também de um novo chassi. Em um trabalho de desenvolvimento excelente realizado pela Lola, surgiu o chassi FN06. Mais leve e mais rápido que seu antecessor, ajudou também a reduzir custos na categoria, isso atraiu mais equipes e pilotos, e o grid de 2006 teria então 22 carros. Os motores continuavam sendo fornecidos por Honda e Toyota e a categoria parecia ter atingido sua maturidade com carros muito rápidos e pilotos de qualidade.


Nesse momento podemos perceber uma mudança nas características da Formula Nippon. Uma categoria que antes servia para os pilotos estrangeiros apenas como um trampolim para a F1, passou a se tornar muito atrativa para pilotos que pretendiam uma carreira sólida no Japão, já que além da Formula Nippon a maioria dos pilotos também corria no SuperGT. Num momento em que a F1 privada dos gordos patrocínios tabagistas procurava por pilotos pagantes, muitos poderiam encontrar no Japão uma oportunidade para seguirem sua carreira.


As temporadas de 2006, 2007 e 2008 contaram com o chassi FN06, que durante esses anos passou por algumas alterações. O câmbio, inicialmente sequencial, passou a ser semi-automático, permitindo aos pilotos a troca de marchas no próprio volante. Essa e outras pequenas alterações deram melhor desempenho aos carros, que quebravam recordes em várias pistas, recordes estes que perduravam alguns desde a década de 90.

Lola FN06 - Kondo Racing 2008 - João Paulo de Oliveira

Mas aí veio a grave crise financeira que abalou o mundo e atingiu o Japão em cheio. Justamente o setor automotivo foi um dos mais, senão o mais afetado, refletindo não só nacionalmente mas internacionalmente. A Honda fechou as portas na F1 e seria acompanhada pela Toyota um ano depois.
Se a crise atingiu dessa forma os investimentos internacionais japoneses no automobilismo, podemos então imaginar o quanto isso foi arrasador em escala nacional.
No final de 2008 foi revelado o novo chassi que seria utilizado a partir de 2009 pela Formula Nippon, dessa vez fabricado pela americana Swift, o chassi visava uma modernização da categoria e também uma redução nos custos. Toyota e Honda continuariam fornecendo motores. A estreia foi muito aguardada e a organização da Formula Nippon não poupou esforços em ações de marketing, inclusive com um concurso de pintura entre os fãs da categoria, para selecionar as duas pinturas que seriam feitas nos primeiros carros a entrarem na pista.
Nada disso adiantou e a Formula Nippon que se acostumou com um grid vasto, teve em 2009 seu ano mais difícil, apenas 13 carros compunham o grid da categoria. Um declínio muito acentuado e um golpe duro para a categoria, justo no ano de estreia do novo chassi. A Formula Nippon parecia caminhar para um abismo sem fim.


A dificuldade financeira vinha reduzindo o calendário da Formula Nippon há alguns anos, e em 2010 a categoria teve apenas sete etapas. Porém o grid passava a contar com mais um carro, iniciando o ano com 14 pilotos, esse número passaria a 15 no final do ano, chegamos então ao mesmo número de 2005, mas ainda muito longe do ideal para a categoria.
Uma novidade foi introduzida para tentar aquecer o mercado e tentar reerguer a categoria, a realização de uma etapa extra campeonato, em conjunto com o SuperGT no final do ano, na pista de Fuji, o chamado “Fuji Sprint Cup”. O evento foi um sucesso de público e sua continuidade em 2011 estava garantida.

Swift FN09 - Team Impul 2011 - João Paulo de Oliveira

O ano de 2011 começou com um carro a mais, 16 pilotos formavam o grid da categoria, que ainda suava para conseguir atrair equipes e pilotos, foram novamente sete etapas e o campeonato terminou com um carro a mais, atingindo a marca de 17, dando sinais de que os investimentos e as ações visando uma maior atratividade da categoria pareciam estar gerando um pequeno, mas ainda sim, considerável crescimento. Da estreia do chassi Swift em 2009 até a última corrida de 2011, passamos de 13 para 17 carros. Sim o número não parece muito significante, mas acreditem ele é. Num país onde o público é muito mais voltado ao SuperGT, essa recuperação da Formula Nippon é louvável.


A temporada de 2012 está chegando e os esforços não param, além do sistema de “push-to-pass” que a categoria possui, esforços estão sendo feitos para o desenvolvimento de um sistema KERS. A categoria tenta investir em corridas fora do território japonês, Cingapura vinha construindo um autódromo para receber a Formula Nippon em 2012, mas problemas financeiros acabaram minando o sonho de uma corrida “além-mar”. Apesar disso a Formula Nippon não desiste e informações dão conta de que a Coréia poderá receber a categoria japonesa em breve.
Apesar dos problemas e das crises enfrentadas, a Formula Nippon sempre encontra um modo de ressurgir de suas próprias cinzas, cada vez melhor e mais interessante.
Podemos ver pilotos estrangeiros estabelecendo uma carreira muito sólida, como Andre Lotterer, na Formula Nippon desde 2003, que faturou seu primeiro título em 2011 e João Paulo de Oliveira, que estreou na categoria em 2006 e em 2010 conquistou o campeonato.
Em 2011 acompanhamos o retorno as origens de Kazuki Nakajima, filho de Satoru, que sem um lugar na F1 encontrou na Formula Nippon seu porto seguro e conquistou o vice-campeonato logo no ano de estreia.
Com corridas emocionantes, pistas desafiadoras, pilotos talentosos, um custo infinitamente menor que o da F1 e a possibilidade de uma carreira sólida, que se extende ao SuperGT, a Formula Nippon cada vez mais se torna uma alternativa excelente aos pilotos de todo o mundo, abrindo precedente para que possamos esperar um crescimento nos próximos anos, sonhar com um grid cheio novamente e um calendário mais extenso.

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